PERÍCIA TÉCNICA EM OBRAS HISTÓRICAS: DESAFIOS E OPORTUNIDADES

A perícia técnica em obras históricas e edificações tombadas é uma área especializada, que exige não apenas conhecimento técnico aprofundado, mas também uma abordagem cuidadosa para a preservação cultural. Essa atividade tem como objetivo identificar patologias estruturais, avaliar riscos e propor soluções que garantam a segurança da edificação sem comprometer seu valor histórico. Com o crescente interesse na conservação do patrimônio arquitetônico, a demanda por profissionais qualificados nesta área tem aumentado, tornando-se um nicho promissor para Engenheiros Civis e Arquitetos.

Oportunidades no Setor de Perícias em Obras Históricas

A crescente valorização do patrimônio histórico e o aumento do turismo cultural impulsionam a demanda por profissionais especializados na área. Técnicos capacitados podem atuar em consultorias para projetos de restauro e reabilitação estrutural, colaborando para a preservação de centros urbanos históricos e monumentos culturais, além do quê, os laudos de perícia são fundamentais para processos judiciais no setor imobiliário. Outro ponto é que cidades e estados têm criado incentivos fiscais para projetos de conservação, aumentando as oportunidades para empresas e profissionais do setor.

O uso de novas tecnologias abre ainda mais possibilidades. O emprego de drones para inspeção de fachadas e coberturas permite diagnósticos mais detalhados sem a necessidade de andaimes, reduzindo custos e riscos. Softwares de modelagem 3D e scanners a laser possibilitam a criação de representações digitais precisas das edificações, facilitando a análise estrutural e a elaboração de propostas de intervenção.

É de grande importância destacar a interdisciplinaridade do setor. O trabalho de perícia em edificações históricas envolve a colaboração entre engenheiros civis, arquitetos, historiadores e especialistas em restauro. Esse ambiente multidisciplinar permite a troca de conhecimento e a evolução das práticas de conservação, ampliando as possibilidades de atuação dos profissionais envolvidos.

Principais Desafios na Perícia de Obras Históricas

Um dos maiores desafios nesse tipo de perícia é equilibrar a conservação do imóvel com a segurança estrutural. Muitas edificações foram erguidas com materiais e técnicas construtivas que não são mais utilizados, como alvenaria de pedra, argamassa de cal e madeira nobre. O perito deve ser capaz de avaliar a resistência desses elementos e propor reforços estruturais sem descaracterizar a construção. Isso exige conhecimento sobre técnicas tradicionais de construção e materiais compatíveis para restauração.

Outro desafio significativo é a escassez de registros técnicos originais. Muitas dessas edificações não possuem plantas estruturais, memoriais descritivos ou estudos geotécnicos. Isso demanda um trabalho minucioso de levantamento documental e análise de campo, aliado ao uso de tecnologias não destrutivas, como termografia, ultrassom estrutural e ensaios de esclerometria. Além disso, a adaptação de edifícios históricos para usos modernos deve ser feita com extremo cuidado para não comprometer a integridade estrutural e estética da edificação.

Além dos desafios técnicos, há dificuldades logísticas e burocráticas. O processo de obtenção de autorizações junto aos órgãos de proteção do patrimônio pode ser demorado e envolver múltiplas etapas. O profissional responsável deve estar familiarizado com a legislação vigente para evitar atrasos e problemas legais.

Aspectos Legais e Normativos

No Brasil, qualquer intervenção em bens tombados deve seguir regulamentações específicas, sendo fiscalizada por órgãos como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Qualquer modificação ou reforço estrutural precisa ser previamente autorizado, garantindo que as intervenções não comprometam o valor histórico do imóvel.

A Lei nº 9.605/1998 prevê penalidades para intervenções indevidas que causem danos ao patrimônio histórico. Além disso, normas técnicas da ABNT, como a NBR 15575 (desempenho de edificações) e a NBR 5674 (manutenção de edificações), estabelecem diretrizes para inspeções e manutenções preventivas, assegurando a conservação adequada dessas construções.

Os profissionais que atuam nessa área devem estar atentos também às legislações estaduais e municipais, que podem apresentar normas específicas para cada região. Em algumas cidades, existem fundos de incentivo e programas de financiamento voltados para a restauração de prédios históricos, proporcionando oportunidades de atuação para engenheiros e arquitetos especializados.

Engº Civil Fernando C. de Figueiredo Sousa

@fernandofigueiredos

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